sexta-feira, 28 de março de 2014

"Série Entrevista XVI: Antônio Reis Villalobos"

Ficha técnica
Nome: Antônio Reis Villalobos
Filiação:  José Villalobos e Maria Rozaria Reis Villalobos
Estado: Ribeirão Preto - SP
Data de nascimento:  13/11/1937
Profissão: Médico psiquiatra na Prefeitura de Ribeirão Preto – SP e Advogado.

Entrevista realizada no mês de março de 2014 pelo pesquisador Guilherme Jorge Figueira com o veterano do Partido de Representação Popular – PRP (1945-1965) Dr. Antônio Reis Villalobos.

1) Dr. Antônio Reis Villalobos, como foi seu primeiro contato com as idéias defendidas pelo poeta, escritor e político Plínio Salgado? Quantos anos o senhor tinha na época?

Aos 16 anos, através de um livro do Plínio Salgado (O que é o Integralismo) e logo depois, lendo o Manifesto da Ação Integralista Brasileira. Logo procurei o Diretório Municipal do PRP e fui encaminhado para um Centro Cultural de jovens.

2) A Confederação dos Centros Culturais da Juventude – CCCJ foram um importante canal de formação dos jovens brasileiros, estando presente em diversos Estados, o senhor chegou a fazer parte? Em qual Centro Cultural da Juventude o senhor fazia parte? Como eram as reuniões?  

Em Ribeirão Preto - SP havia um Centro de jovens, o Centro Cultural José Bonifácio. Fiz parte ativa deste núcleo de jovens. Havia discussões de problemas brasileiros, palestras a cargo dos membros e de pessoas convidadas, intelectuais e políticos, da cidade e de fora. Participei de um Congresso em Sorocaba – SP, com representantes de quase todos Estados brasileiros. Organizamos uma semana de palestras em Ribeirão Preto, com oradores de fora, inclusive o Sr. Plínio Salgado. Esteve evento agitou a cidade, provocando muita polêmica e confrontos de ideias.  

3) O senhor chegou a ser candidato a Vereador pelo Partido de Representação Popular – PRP, presidido por Plínio Salgado, em Ribeirão Preto - SP. Como se sucedeu a campanha? O senhor chegou a ser eleito?

Preliminarmente devo dizer o seguinte: a ideia do Plínio, de preparar toda uma geração de jovens para lidar com os problemas brasileiros e virem a influir no destino do país, no futuro, foi magnífica e muito bem pensada e deu algum resultado. Porém, penso que a candidatura do Plínio a Presidente, em 1955, atrapalhou o desenvolvimento deste Movimento, pois os Centros Culturais engajaram-se na campanha e praticamente agregaram-se ao Partido de Representação Popular, afastando jovens que perfilhavam outras candidaturas, dando colorido político-partidário ao movimento dos Centros Culturais.

Candidatei-me ao cargo de Vereador, em 1959. Era estudante de medicina, estava desgostoso com o curso e entrei na disputa apenas para agregar votos ao Partido. A cidade era pequena e eu gozava de algum prestígio, por ter entrado na Faculdade de Medicina local em primeiro lugar e os jornais terem feito grande alarde de tal conquista. Mãe e Tias eram Professoras de largo prestigio na cidade e minha família ampliada era numerosa, o que me garantiu um bom apoio. Os estudantes me apoiaram em massa e os jovens do Centro Cultural trabalharam muito para minha eleição. Para grande surpresa minha e de todos, fui eleito com quantia respeitável de votos. Fui eleito prestes a completar 22 anos de idade, o que foi uma proeza notável, visto que até então só “figurões” eram eleitos.

4) Durante sua trajetória no Partido Populista como era o relacionamento com os antigos veteranos da Acção Integralista Brasileira – AIB (1932-1937) presentes no partido? O senhor chegou a conhecer Plínio Salgado?  Como foi o encontro?

De início o relacionamento foi muito bom. Na maioria, eram bem mais velhos, pessoas simples, bem intencionadas, fãs incondicionais do Plínio e eu gozava de grande prestígio, pela militância, dedicação, por ter entrado na medicina em primeiro lugar e por ter sido eleito Vereador. Depois as coisas foram se complicando. Alguns líderes do Partido, com militância politica dentro do sistema, apoiavam velhos e matreiros políticos, como o Governador do Estado, Adhemar de Barros e o Prefeito da cidade, do PSP, partido do Governador.

Nós, os jovens, éramos contra e isto levou a confrontos e divisão do Partido. Tornei-me Presidente do Diretório Municipal. Aos poucos, fui me desencantando, pois o Partido foi se tomando de um antiesquerdismo fanático, tornando o combate à esquerda, praticamente o objetivo único do movimento. Eu fui me encantando com a Revolução Cubana, com os líderes Fidel e Guevara e fui assumindo posição mais a esquerda. Minha presença no PRP tornou-se incômoda e me desliguei.

Entreguei o cargo de Vereador ao Partido, mas o Diretório, em reunião tensa, decidiu que eu poderia ficar no cargo, mesmo tendo saído do partido. Filiei-me ao PSB e isto praticamente cortou toda a amizade que eu tinha com os antigos companheiros. Não me candidatei à reeleição e voltei para a Faculdade de Medicina, da qual havia me afastado para exercer bem o mandato de Vereador e para estudar Direito. Afastei-me da política. Em 1964, por estar na Presidência do Centro Acadêmico da Faculdade de Medicina, Centro este muito ativo, fui preso por ordem dos militares e processado pela Auditoria de Guerra, mas acabei sendo absolvido por este Tribunal.

Conheci o Plínio Salgado logo que entrei no movimento dos Centros Culturais, pois ia a cidade onde ele fazia palestras. Nossos laços se estreitaram quando ele veio a Ribeirão a convite do Centro Cultural José Bonifácio, para proferir palestras. Era pessoa muito culta, patriota exacerbado, muito nacionalista e afável no trato. Sempre o considerei muito honesto, bem intencionado e gostei muito das ideais dele constantes de publicações da década de 1930. Gostei muito de seu livro “A Vida de Jesus”, mas, acho que o seu Catolicismo fanático e a obsessão anticomunista, o desviaram da exposição de suas ideias filosóficas, políticas e administrativas, expostas em publicações de décadas antes. Quer me parecer, embora não tenha entendido muito, que na sua obra, “Psicologia da Revolução” ele adotou ideias Hegelianas originais. Tive encontros casuais posteriores à minha saída do PRP e sempre fui bem tratado pelo mesmo.

5) Por fim, qual a mensagem que o senhor deixa a todos os jovens que atualmente buscam informações sobre a história do Brasil?

Penso que cometi um erro ao entrar na política muito cedo, sem ter uma profissão definida e um meio de vida garantido, bem como preparo e maturidade para uma contribuição efetiva e positiva nos rumos de qualquer setor da Administração Pública. Ao rever meus discursos, nas atas da Câmara Municipal de Ribeirão Preto da época em que fui Vereador, verifico que dei pouca contribuição aos problemas práticos da Administração, embora alguns bem significativos, e que meu espírito “pairava nas nuvens”, como se quisesse resolver o problema de toda a humanidade e do país, transtornado por uma ideologia utópica e contaminado por todos os embates da Guerra Fria. Penso que todos os jovens deveriam se interessas pelos problemas do país e do mundo, mas só tentarem fazer alguma coisa quando bem preparados para enfrentar a vida, os compromissos familiares e tiverem maturidade para realmente darem uma contribuição efetiva e positiva.

Penso que Plinio foi e continua sendo muito injustiçado em sua memória. Praticamente nada encontrei de adesão franca ao Fascismo e ao Nazismo. Pelo contrário, em sua obra “O Estrangeiro”, há um momento de ataque ao Fascismo, quando o professor, personagem do livro, estrangula papagaios de um comerciante italiano, que cantava o hino Fascista e os jogam na cachoeira de Avanhandava, proferindo uma fala nacionalista.

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Abaixo lista de entrevistados:





Entrevistas XIV - Sra. Maria Alice Nardelli Pinto: http://www.historia-do-prp.blogspot.com.br/2014/01/fichatecnica-nomemaria-alice-nardelli.html


Entrevistas XIII - Sr. Murilo Cesar Luiz Alves: (http://historia-do-prp.blogspot.com.br/2013/12/ficha-tecnica-nome-murilo-cesar-luiz.html);


Entrevistas XIII - Sr. Murilo Cesar Luiz Alves: (http://historia-do-prp.blogspot.com.br/2013/12/ficha-tecnica-nome-murilo-cesar-luiz.html);


Entrevista XII: Sr. Marco Antonio Rattes Nunes: (http://historia-do-prp.blogspot.com.br/2013/12/serie-entrevistas-xii-sr-marco-antonio.html)


Entrevista XI: Sra. Ana Carolina Monteiro Porto de Oliveira (http://historia-do-prp.blogspot.com.br/2013/11/serie-entrevistas-xiii-sra-ana-carolina.html)


Entrevista X: Sr. Jeronimo de Araujo (http://historia-do-prp.blogspot.com.br/2013/10/serie-entrevistas-xii-sr-jeronimo-de.html)


Entrevista IX Sra. Lieden Maria de Oliveira Carvalho (http://historia-do-prp.blogspot.com.br/2013/07/ssss.html)


Entrevista  IIIV Sr. Jenyberto Pizzotti  (http://historia-do-prp.blogspot.com.br/2013/06/ficha-tecnica-nome-jenyberto-pizzotti.html)


Entrevista IIV Sra. Maria Novaes (http://historia-do-prp.blogspot.com.br/2013/06/serie-entrevistas-ix-sra-maria-novaes.html)


Entrevista IV Sra. Leda Maria (http://historia-do-prp.blogspot.com.br/2013/01/serie-entrevistas-viii-sra-leda-maria.html)


Entrevista V Sra. Cristina Fontana (http://historia-do-prp.blogspot.com.br/2012/12/serie-entrevistas-vii-sra-cristina_2.html)


Entrevista IV Sr. Cezar Augusto (http://historia-do-prp.blogspot.com.br/2011/03/serie-entrevistas-v-sr-cezar-augusto.html)


Entrevista III Sr. Rufino Levi  (http://historia-do-prp.blogspot.com.br/2011/03/serie-entrevistas-iii-sr-rufino-levi-de.html)


Entrevista II Sr. Antonio de Pádua Franco Ramos (http://historia-do-prp.blogspot.com.br/2011/03/serie-entrevistas-ii-sr-antonio-de.html)


Entrevista I Sr. Antonio Gondim (http://historia-do-prp.blogspot.com.br/2011/02/serie-entrevistas-sr-antonio-gondim.html)

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