Nome:
Antônio Reis Villalobos
Filiação:
José Villalobos e Maria Rozaria Reis
Villalobos
Estado:
Ribeirão Preto - SP
Data
de nascimento: 13/11/1937
Profissão:
Médico psiquiatra na Prefeitura de Ribeirão Preto – SP e Advogado.
Entrevista
realizada no mês de março de 2014 pelo pesquisador Guilherme Jorge Figueira com
o veterano do Partido de Representação Popular – PRP (1945-1965) Dr. Antônio
Reis Villalobos.
1) Dr. Antônio Reis Villalobos, como foi seu
primeiro contato com as idéias defendidas pelo poeta, escritor e político
Plínio Salgado? Quantos anos o senhor tinha na época?
Aos 16 anos, através de um livro do Plínio Salgado (O que é o
Integralismo) e logo depois, lendo o Manifesto da Ação Integralista Brasileira.
Logo procurei o Diretório Municipal do PRP e fui encaminhado para um Centro
Cultural de jovens.
2) A Confederação dos Centros Culturais da
Juventude – CCCJ foram um importante canal de formação dos jovens brasileiros,
estando presente em diversos Estados, o senhor chegou a fazer parte? Em qual
Centro Cultural da Juventude o senhor fazia parte? Como eram as reuniões?
Em Ribeirão Preto - SP havia um Centro de jovens, o Centro
Cultural José Bonifácio. Fiz parte ativa deste núcleo de jovens. Havia
discussões de problemas brasileiros, palestras a cargo dos membros e de pessoas
convidadas, intelectuais e políticos, da cidade e de fora. Participei de um
Congresso em Sorocaba – SP, com representantes de quase todos Estados
brasileiros. Organizamos uma semana de palestras em Ribeirão Preto, com
oradores de fora, inclusive o Sr. Plínio Salgado. Esteve evento agitou a
cidade, provocando muita polêmica e confrontos de ideias.
3) O senhor chegou a ser candidato a Vereador
pelo Partido de Representação Popular – PRP, presidido por Plínio Salgado, em
Ribeirão Preto - SP. Como se sucedeu a campanha? O senhor chegou a ser eleito?
Preliminarmente devo dizer o seguinte: a ideia do Plínio, de
preparar toda uma geração de jovens para lidar com os problemas brasileiros e
virem a influir no destino do país, no futuro, foi magnífica e muito bem
pensada e deu algum resultado. Porém, penso que a candidatura do Plínio a Presidente,
em 1955, atrapalhou o desenvolvimento deste Movimento, pois os Centros
Culturais engajaram-se na campanha e praticamente agregaram-se ao Partido de
Representação Popular, afastando jovens que perfilhavam outras candidaturas,
dando colorido político-partidário ao movimento dos Centros Culturais.
Candidatei-me ao cargo de Vereador, em 1959. Era estudante de
medicina, estava desgostoso com o curso e entrei na disputa apenas para agregar
votos ao Partido. A cidade era pequena e eu gozava de algum prestígio, por ter
entrado na Faculdade de Medicina local em primeiro lugar e os jornais terem
feito grande alarde de tal conquista. Mãe e Tias eram Professoras de largo
prestigio na cidade e minha família ampliada era numerosa, o que me garantiu um
bom apoio. Os estudantes me apoiaram em massa e os jovens do Centro Cultural
trabalharam muito para minha eleição. Para grande surpresa minha e de todos,
fui eleito com quantia respeitável de votos. Fui eleito prestes a completar 22
anos de idade, o que foi uma proeza notável, visto que até então só “figurões”
eram eleitos.
4) Durante sua trajetória no Partido Populista
como era o relacionamento com os antigos veteranos da Acção Integralista
Brasileira – AIB (1932-1937) presentes no partido? O senhor chegou a conhecer
Plínio Salgado? Como foi o encontro?
De início o relacionamento foi muito bom. Na maioria, eram bem
mais velhos, pessoas simples, bem intencionadas, fãs incondicionais do Plínio e
eu gozava de grande prestígio, pela militância, dedicação, por ter entrado na
medicina em primeiro lugar e por ter sido eleito Vereador. Depois as coisas
foram se complicando. Alguns líderes do Partido, com militância politica dentro
do sistema, apoiavam velhos e matreiros políticos, como o Governador do Estado,
Adhemar de Barros e o Prefeito da cidade, do PSP, partido do Governador.
Nós, os jovens, éramos contra e isto levou a confrontos e
divisão do Partido. Tornei-me Presidente do Diretório Municipal. Aos poucos,
fui me desencantando, pois o Partido foi se tomando de um antiesquerdismo
fanático, tornando o combate à esquerda, praticamente o objetivo único do
movimento. Eu fui me encantando com a Revolução Cubana, com os líderes Fidel e
Guevara e fui assumindo posição mais a esquerda. Minha presença no PRP
tornou-se incômoda e me desliguei.
Entreguei o cargo de Vereador ao Partido, mas o Diretório, em
reunião tensa, decidiu que eu poderia ficar no cargo, mesmo tendo saído do
partido. Filiei-me ao PSB e isto praticamente cortou toda a amizade que eu
tinha com os antigos companheiros. Não me candidatei à reeleição e voltei para
a Faculdade de Medicina, da qual havia me afastado para exercer bem o mandato
de Vereador e para estudar Direito. Afastei-me da política. Em 1964, por estar
na Presidência do Centro Acadêmico da Faculdade de Medicina, Centro este muito
ativo, fui preso por ordem dos militares e processado pela Auditoria de Guerra,
mas acabei sendo absolvido por este Tribunal.
Conheci o Plínio Salgado logo que entrei no movimento dos
Centros Culturais, pois ia a cidade onde ele fazia palestras. Nossos laços se
estreitaram quando ele veio a Ribeirão a convite do Centro Cultural José
Bonifácio, para proferir palestras. Era pessoa muito culta, patriota
exacerbado, muito nacionalista e afável no trato. Sempre o considerei muito
honesto, bem intencionado e gostei muito das ideais dele constantes de
publicações da década de 1930. Gostei muito de seu livro “A Vida de Jesus”, mas, acho que o seu Catolicismo fanático e a
obsessão anticomunista, o desviaram da exposição de suas ideias filosóficas,
políticas e administrativas, expostas em publicações de décadas antes. Quer me
parecer, embora não tenha entendido muito, que na sua obra, “Psicologia da Revolução” ele adotou
ideias Hegelianas originais. Tive encontros casuais posteriores à minha saída
do PRP e sempre fui bem tratado pelo mesmo.
5) Por fim, qual a mensagem que o senhor deixa
a todos os jovens que atualmente buscam informações sobre a história do Brasil?
Penso que cometi um erro ao entrar na política muito cedo, sem
ter uma profissão definida e um meio de vida garantido, bem como preparo e
maturidade para uma contribuição efetiva e positiva nos rumos de qualquer setor
da Administração Pública. Ao rever meus discursos, nas atas da Câmara Municipal
de Ribeirão Preto da época em que fui Vereador, verifico que dei pouca
contribuição aos problemas práticos da Administração, embora alguns bem
significativos, e que meu espírito “pairava nas nuvens”, como se quisesse
resolver o problema de toda a humanidade e do país, transtornado por uma
ideologia utópica e contaminado por todos os embates da Guerra Fria. Penso que
todos os jovens deveriam se interessas pelos problemas do país e do mundo, mas
só tentarem fazer alguma coisa quando bem preparados para enfrentar a vida, os
compromissos familiares e tiverem maturidade para realmente darem uma
contribuição efetiva e positiva.
Penso
que Plinio foi e continua sendo muito injustiçado em sua memória. Praticamente
nada encontrei de adesão franca ao Fascismo e ao Nazismo. Pelo contrário, em sua
obra “O Estrangeiro”, há um momento
de ataque ao Fascismo, quando o professor, personagem do livro, estrangula
papagaios de um comerciante italiano, que cantava o hino Fascista e os jogam na
cachoeira de Avanhandava, proferindo uma fala nacionalista.
---Abaixo lista de entrevistados:
Entrevistas XV - Sr. Marco Clarke: http://www.historia-do-prp.blogspot.com.br/2014/01/ficha-tecnica-nome-marco-clarke-estado.html
Entrevistas XIV - Sra. Maria Alice Nardelli Pinto: http://www.historia-do-prp.blogspot.com.br/2014/01/fichatecnica-nomemaria-alice-nardelli.html
Entrevistas XIII - Sr. Murilo Cesar Luiz Alves: (http://historia-do-prp.blogspot.com.br/2013/12/ficha-tecnica-nome-murilo-cesar-luiz.html);
Entrevistas XIII - Sr. Murilo Cesar Luiz Alves: (http://historia-do-prp.blogspot.com.br/2013/12/ficha-tecnica-nome-murilo-cesar-luiz.html);
Entrevista XII: Sr. Marco Antonio Rattes Nunes: (http://historia-do-prp.blogspot.com.br/2013/12/serie-entrevistas-xii-sr-marco-antonio.html)
Entrevista XI: Sra. Ana Carolina Monteiro Porto de Oliveira (http://historia-do-prp.blogspot.com.br/2013/11/serie-entrevistas-xiii-sra-ana-carolina.html)
Entrevista X: Sr. Jeronimo de Araujo (http://historia-do-prp.blogspot.com.br/2013/10/serie-entrevistas-xii-sr-jeronimo-de.html)
Entrevista IX Sra. Lieden Maria de Oliveira Carvalho (http://historia-do-prp.blogspot.com.br/2013/07/ssss.html)
Entrevista IIIV Sr. Jenyberto Pizzotti (http://historia-do-prp.blogspot.com.br/2013/06/ficha-tecnica-nome-jenyberto-pizzotti.html)
Entrevista IIV Sra. Maria Novaes (http://historia-do-prp.blogspot.com.br/2013/06/serie-entrevistas-ix-sra-maria-novaes.html)
Entrevista IV Sra. Leda Maria (http://historia-do-prp.blogspot.com.br/2013/01/serie-entrevistas-viii-sra-leda-maria.html)
Entrevista V Sra. Cristina Fontana (http://historia-do-prp.blogspot.com.br/2012/12/serie-entrevistas-vii-sra-cristina_2.html)
Entrevista IV Sr. Cezar Augusto (http://historia-do-prp.blogspot.com.br/2011/03/serie-entrevistas-v-sr-cezar-augusto.html)
Entrevista III Sr. Rufino Levi (http://historia-do-prp.blogspot.com.br/2011/03/serie-entrevistas-iii-sr-rufino-levi-de.html)
Entrevista II Sr. Antonio de Pádua Franco Ramos (http://historia-do-prp.blogspot.com.br/2011/03/serie-entrevistas-ii-sr-antonio-de.html)
Entrevista I Sr. Antonio Gondim (http://historia-do-prp.blogspot.com.br/2011/02/serie-entrevistas-sr-antonio-gondim.html)